Psicologia e Hemodiálise



Carla Danielle Weyl Costa Cruz

Especialista em Avaliação Psicológica
Especialista em Saúde do Idoso
Especialista em Saúde
Especialista em Teoria psicanalítica.

 

 

O início do tratamento dialítico promove várias modificações na vida do paciente e da família. Tais modificações impactam na vida pessoal, social, profissional e emocional do paciente e podem desencadear uma gama de sentimentos negativos.

Ao iniciar a hemodiálise o paciente necessitará promover uma mudança em sua rotina, assumindo desta forma um ‘contrato’ com sua saúde física e emocional. As modificações na rotina do paciente variam entre os horários de diálise, mudanças na alimentação e ingesta hídrica e algumas limitações de forma geral².

O tratamento dialítico requer do paciente um lidar constante da finitude da vida e acaba por ser visto pelo paciente como uma “sentença de morte” por causar algumas perdas que podem afetar a sua vida. A forma como este paciente irá lidar com os sentimentos (medo, angustia, tristeza, desemparo, impotência negação e ansiedade) diante do seu adoecimento facilitará sua adaptação e aceitação ao tratamento². Os recursos emocionais e de enfrentamento diante das adversidades será um dos pontos fundamentais para que os pacientes possam criar seus repertórios adaptativos diante do tratamento.

Neste sentido cabe ao profissional da psicologia atuar junto aos pacientes renais para minimizar tais sofrimentos e auxiliar na aceitação do tratamento e conseqüentemente melhorar a qualidade de vida.

A atuação do psicólogo na hemodiálise visa à compreensão dos sentimentos vivenciados pelos pacientes e familiares. Visa também auxiliar na compreensão do paciente com a sua percepção sobre a doença e o tratamento e como lidar melhor com as dificuldades de aceitação ao tratamento².

É função do psicólogo compreender os impactos emocionais vivenciados por pacientes e familiares com o início e ao longo de todo o tratamento. A resposta de cada paciente é única e depende de suas experiências e vivências, desta forma, cada paciente terá uma relação única com o tratamento dialítico, tendo sua resposta adaptativa e a aceitação ao longo do tratamento de acordo com sua visão de vida².

A aceitação ao tratamento dialítico perpassa pela percepção e as estratégias de enfrentamento do paciente diante das adversidades. A aceitação ao tratamento dialítico é compreendida pela visão do paciente diante de seus fatores comportamentais (fatores internos) e como este estabelece sua rede de apoio/suporte familiar (fatores externos) que vão auxiliar e facilitar a sua aceitação ao tratamento³.

Desta forma, a aceitação ao tratamento caracteriza-se pela compreensão do paciente diante do seu adoecimento e como este irá lidar com modificações imposta pelo início do tratamento. Assim, para tornar-se responsável pelo seu tratamento e compreendendo como ele repercute em sua vida e em seu corpo auxiliam na aceitação e consequentemente melhoram a qualidade de vida³

Outro ponto importante que irá compor com a melhora na qualidade de vida do paciente refere-se a sua Aderência ao tratamento dialítico. A adesão ao tratamento dialítico está relacionada não apenas a qualidade de vida, mas também ao aumento da sobrevida e a redução da mortalidade em diálise¹.

A adesão ao tratamento pode ser compreendida como um conjunto de comportamentos exercidos pelo paciente que vão ao encontro as prescrições e orientações dos profissionais de saúde que convergem para o resgate e aumento da qualidade de vida do paciente⁴.

A adesão ao tratamento, na visão do paciente, nem sempre é um processo simples, tendo em vista que com o início do tratamento existem mudanças bruscas na vida do paciente. Para garantir que melhorias propostas pelo tratamento possam beneficiar o paciente, vai requerer deste uma mudança na sua forma de pensar e consequentemente de agir⁴.

As estratégias de enfrentamento são as melhores ‘armas’ que o paciente poderá dispor para facilitar sua aderência ao tratamento. Tais estratégias perpassam pelo histórico de vida de cada um, ou seja, como cada paciente se relacionou com si, com os outros e com o mundo ao seu redor. Algumas destas estratégias, para facilitar a adesão convergem nas redes de suporte que o paciente possa dispor, tais como: apoio da equipe de saúde, suporte familiar, comprometimento consigo e responsabilidade com ser tratamento são alguns exemplos⁴.

Desta forma, cabe ao psicólogo atuar como facilitar de uma visão mais positiva diante do tratamento, dando (re)significados as questões relacionadas a saúde e adoecimento e tratamento e assim facilitando uma (re)construção de sua autonomia⁵.

 

REFERENCIAS

¹BASÍLIO, S.M.S; LINS, J,L.; LEITE,S.; GODOY, S.; TAVARES, J.M.A.B.; ROCHA, R.G.; SILVA, F.V.C. Adesão de portadores de doença renal crônica em hemodiálise ao tratamento estabelecido. Acta Paul Enferm. 31 (1) • Jan-Feb 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ape/a/XrgGPyXqTQsBncc8zjTd5bc/?lang=pt

²COSMO, M.; FREITAS, P.P.W. Atuação do psicólogo em hemodiálise. Rev. SBPH vol.13 no.1 Rio de Janeiro jun. 2010. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582010000100003

³MALDANER CR, BEUTER M, BRONDANI CM, BUDÓ MLD, PAULETTO MR. Fatores que influenciam a adesão ao tratamento na doença crônica: o doente em terapia hemodialítica. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 dez;29(4):647-53. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/7638/4693

⁴PREZOTTO, K.H.; ABREU, I.S. O paciente renal crônico e a adesão ao tratamento hemodialítico. Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(3):600-5, mar., 2014. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/9715/9794

⁵REIS, C.G. Revisão de estudos que abordam aspectos psicológicos na intervenção para adesão aos cuidados nutricionais com pacientes em diálise renal. Disponível em: http://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/26382/1/RevisaoEstudosAbordam.pdf

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